Fafá, a perereca vivia desgostosa com sua aparecia. Tinha dentes
enormes, tanto que mal podia fechar a boca, percebia que os outros anfíbios do
brejo se afastavam, assim que ela abria a boca. Triste, se retraía ficando
longe dos animais de sua espécie e pra piorar sempre tinha alguns girinos maus
educados, que não perdiam chances de fazerem piadas quando a perereca passava.
__ Olha pessoal! Cuidado aí! Abre espaço pro cortador de gramas passar!
Há, não! Me enganei, é só a perereca dentuça! Cuidado, que ela vai te morder!
KKKKK!
Os malvados nem imaginavam o quanto a perereca Fafá sofria, com aquelas
brincadeiras sem graças, porém, a perereca não revidava, abaixava a cabeça e
seguia o seu caminho ainda ouvindo injurias em suas costas. Ela deveria estar
acostumada com a zuação dos garotos, pois sua vida inteira sempre foi assim. Às
vezes, triste em seu canto solitária se perguntava, por que eu? Tantas
pererecas no brejo, só eu tenho esses dentes enormes!
Um dia, enquanto Fafá passeava no parque, pegou um homem a olhando. No
primeiro momento ele riu muito de sua cara, mas depois não sossegou até pegá-la
em suas mãos e correu pra mostrar pros amigos.
__ Pessoal! Olha só pra isso, uma perereca com dentes enormes!
A zuação foi geral, riram tanto da minha cara, chegando a me queixar de
dor de barriga. Uns diziam que eu parecia um abridor de latas, outros uma
serra, um papa capim, ninguém ligava para os meus sentimentos. Poxa, isso
magoa! É humilhante! E eu ali me sentindo acuada, presa nas mãos de um deles,
rodeadas por marmanjões se divertindo com a minha cara. Teve um deles que disse
que ia me levar ao dentista, pra por um aparelho em meus dentes. Na hora fiquei
furiosa, mas pensando bem, de repente poderia até resolver!
__ E aí, Fafá! Em que tanto pensa?
__ Oi Joca! Estava tão distraída que não vi você se aproximar! Joca,
voce já ouviu falar em aparelhos pra dentes?
__ O quê?
__ Você sabe, esse meu problema!
__ Há, Fafá! Você chama isso de problema, isso aí é uma arma!
__ Está vendo Joca, até você! Reclama à perereca, ofendida.
__ Não precisa chorar, Fafá! Você sabe que sempre fui o seu melhor
amigo, tanto que vou te dizer quem pode te ajudar!
__ Quem, quem? Pergunta a perereca, ansiosa.
__ O sapão, do laboratório! Aquele que mora na faculdade! Se quiser,
peço para ele arranjar uns ganchos para por na tua boca?
__ Será que isso dá resultado?
__ Vamos lá agora mesmo ao laboratório falar com o sapão!
Os dois amigos saíram a caminho da faculdade, quando a perereca Fafá
perde o equilíbrio e cai no precipício. O amigo Joca entra em desespero olhando
assustado pro fundo do buraco, gritando por socorro.
__ Socorro! Socorro! Alguém me ajude aqui! Fafá, onde está você? Fala
comigo, minha amiga!
Logo, em volta do precipício, junta um bando de curiosos.
Enquanto isso, Joca continuava aos berros.
__ A Fafá morreu! A Fafá morreu!
Quando Joca ouve uma voz fanhosa vindo bem abaixo de suas patas, a
alguns centímetros abaixo da boca do precipício.
__ Socorro! Socorro! Socorro!
Joca fica surpreso. Era Fafá que estava abocanhada na beira do
precipício. Tinha ela, os dentões cravados bem firme na terra, evitando que seu
corpo sumisse no buraco negro.
O amigo Joca, incrédulo correu em seu auxilio puxando-a por umas das
patas, arrastando-a para longe do abismo.
Depois que o susto tinha passado, Joca pergunta para Fafá:
__ Então, amiga? Vamos falar com o sapão, para ele dar um jeito nesses
teus dentões?
__ Não, Joca! Foi graça aos meus dentões, que não despenquei naquele
precipício! Quase virei paçoca de perereca! Agora eu entendo que nada é por
acaso, se Deus permitiu que eu nascesse com dentes grandes, é porque eles têm a
sua serventia!
Dilma Lourenço Moreira
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